A polêmica envolvendo a vaga de R$ 1,8 mil da confeitaria Scherbi’s, em São Paulo, reacendeu a discussão sobre anúncios de emprego com jornadas sem folga, funções irregulares — como “ama de leite” — e até oferta de trabalho por R$ 5. O tema mobiliza trabalhadores e reforça a necessidade de checar direitos previstos na legislação.
O caso Scherbi’s: salário, jornada e reação
A vaga de auxiliar de cozinha foi publicada em maio e viralizou neste mês: R$ 1.800, expediente 14h–22h, trabalho em finais de semana e feriados. Após críticas, a empresa afirmou cumprir a CLT e acordos coletivos. Em julho, os pisos salariais do setor em SP foram atualizados (ex.: Piso Especial: R$ 1.804; Diferenciado: R$ 2.070,51; Normal: R$ 2.360,06), mas a postagem antecede a revisão.
Canais nacionais registraram o debate e a manifestação da chef Isa Scherer sobre o tema, apontando tarefas exigidas e questionamentos do público.
Anúncios que beiram o absurdo
Relatos reunidos por veículos de economia e carreira mostram vagas com 12 horas diárias, folga quinzenal (e não aos fins de semana), pedidos sem benefícios e acúmulo de funções — cenário incompatível com a jornada máxima de 44 horas semanais. Houve também oferta de edição de vídeo por R$ 5 o trabalho, amplamente criticada por profissionais.
“Ama de leite”: por que é ilegal e antiético
Anúncios para babá que exigem que a trabalhadora amamente a criança, além de pagarem abaixo do salário-mínimo, são denunciados por violarem direitos. Emprego doméstico exige registro em carteira (CTPS) e respeito às normas; a licença-maternidade mínima é de 120 dias (CF/88 e CLT, art. 392).
O que diz a lei: jornada e descanso
A CLT (art. 58) limita a jornada a 8 horas diárias (salvo exceções) e 44 semanais. A Lei 605/1949 garante repouso semanal remunerado de 24 horas, preferencialmente aos domingos. Logo, uma escala 7×0 fere o descanso previsto em lei.
Escala 7×0 no debate político
A discussão sobre mudança para 7×0 ganhou tração em 2025 no Congresso e foi criticada por colocar em risco a folga semanal de milhões de trabalhadores. O tema elevou a vigilância sobre anúncios que naturalizam jornadas sem descanso.
Como o trabalhador pode se proteger e denunciar
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Desconfie de exigências abusivas (7×0, 12h diárias contínuas, salário abaixo do mínimo, “ama de leite”).
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Guarde prints e links do anúncio.
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Denuncie ao Ministério Público do Trabalho (MPT) pela Ouvidoria/Denuncie (on-line).
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Acione a Inspeção do Trabalho no canal oficial do Governo Federal para denúncias trabalhistas.